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sexta-feira, 4 de março de 2011

O amor



talvez esteja aqui, 
neste pedaço de mim e de ti, 
ou naquilo que,
de ti, em mim ficou. 

Está nos teus lábios, na tua voz, nos teus olhos,
e talvez ande por entre os teus cabelos,
ou nesses fios abstractos que desfolho,
com os dedos da memória, quando os evoco.
 
Existe: é o que sei quando me lembro de ti. 
Uma relação pode durar o que se quiser, 
será, no entanto, essa impressão divina que faz a sua permanência? 
Ou impõe-se devagar, como as coisas a que o tempo nos habitua, 
sem se dar por isso, com a pressão sútil da vida?
 
Um deus não precisa do tempo para existir: nós, sim. 
E o tempo corre por entre estas ausências, mete-se no próprio
instante em que estamos juntos, foge por entre as palavras que trocamos, 
eu e tu, para que um e outro as levemos  conosco, e com elas o que somos,
a ânsia efémera dos corpos, o mais fundo desejo das almas.
 
Aqui, um deus não vive sozinho, quando o amor nos junta. 
Desce dos confins da eternidade, abandona o mais remoto dos infinitos, 
e senta-se aos pés da cama, como um cão, ouvindo a música da noite. 

Um deus só existe enquanto o dia não chega; 
por isso adiamos a madrugada, para que não nos abandone, 
como se um deus não pudesse existir para lá do amor,
ou o amor não se pudesse fazer sem um deus.
 
(Nuno Júdice)

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