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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Couraças do Caráter



Todos criamos cascas protetoras, para nos defender dos outros. Bichos cascudos têm pouca mobilidade, e machucam os outros. Uma velha tradição diz que o ser humano faz tudo para ter prazer na vida, e evitar a dor. 
Verdade?
Normalmente não procuramos demonstrar o amor que sentimos, quando amamos. 
Amor é ruim? Feio? Dói?

Também evitamos o choro, mesmo quando a vontade é grande. 
Choro é feio? Dói?

A mulher e o homem apaixonados se encontram.Tem vontade de pegar um na mão do outro, afagar o cabelo, abraçar, olhar nos olhos, puxar o nariz, brincar de faz de conta, manifestar ternura, contentamento, alegria, felicidade. Mas em geral não fazem nada disso.
Tolhem os gestos mais espontâneos e ingênuos, que não são feios nem doem. Dariam prazer?
De fato (e INFELIZMENTE) na hora das coisas boas ficamos cheios de dedos. Não sabemos senti-las, muito menos nos entregar a elas. E usamos desculpas para esconder nossa incapacidade. Dizemos: - Não estava na hora.
- Ele não é a pessoa certa.
- O lugar não era adequado.
- O que iriam pensar?
- Não devo, não sou dessas.

Verdade que procuramos prazer e evitamos a dor?
Acho que acontece o contrário; defendemo-nos de coisas excelentes, fabricando uma casca protetora, verdadeira couraça. Os psicanalistas a chamam de defesa psicológica ou mecanismo de fuga ou proteção? Toda casca faz do indivíduo um especialista? Ele sempre responde as incertezas do mesmo jeito. Por isso, torna-se muito capaz numa direção, e incapaz na outra.

Alguns exemplos: 
O desdenhoso sabe desdenhar espetacularmente, mas sua habilidade termina aí. O orgulhoso é especialista em colocar-se acima das coisas, e incapaz de vivê-las. O gozador tem grande capacidade em rir de tudo, porém, não sente nada de importante, já que tudo é risível. O sério julga o mundo sério demais e achata a vida. Não sabe rir.
O displicente não leva nada a sério, então, não há nada que lhe interessa. A ingênua diz com espanto nos olhos que tudo é novo, mesmo acontecimentos velhos de muitos anos. E não se enriquece com acúmulo das experiências. O cobrador vive exigindo que as pessoas cumpram sua obrigação, com isso elimina a possibilidade (e risco) das respostas espontâneas.
O desconfiado está sempre desconfiado e afasta as coisas boas que interpreta como malévola.
A eterna vítima é técnica em queixar-se, portanto não se arrisca a viver uma situação agradável. O Don Juan transforma a vida numa caçada à mulher, porém é incapaz de amar alguém.
O falador interminável teoriza sobre tudo e não vive, a vida é um dicionário. 

Esses são só alguns exemplos de cascas. Pois há tantas....e todas dificultam a vida. Como se fossem óculos escuros, impossibilitando a visão do arco-iris.
O cavaleiro medieval, armado de imponente armadura, investe contra o índio nu. Casca e não casca. Quem vai ganhar?
Se for preciso passar por uma ponte estreita (ou seja, por um momento difícil) é quase impossível manter o equilíbrio com a armadura. O índio ganha se surgir um perigo inesperado; como é que o cavaleiro se defenderá? Ele só sabe fazer as coisas de um jeito (é um especialista). O índio ganha. Se acontecer um empurrão (isto é, se as pressões sociais forem muitas), o cavaleiro não resiste e cai. O índio ganha.
Além disso, durante todo o tempo da luta, o encouraçado tem a respiração deficiente. Em conseqüência disso, ele pensa, sente e se mexe mal, pois a casca feita, na verdade, por tensões musculares que prendem, como uma roupa apertada, inibe todas as expansões.

Voltando aos exemplos, como o cavaleiro encouraçado, o desdenhoso, a vítima, o orgulhoso e os outros cascudos, especializados em suas defesas se movem, respiram, se sentem mal, vivem mal. Todo bicho muito cascudo,tartaruga, besouro, morre quando cai de costas. Seria bom aprender esta lição. A casca oprime, limita e sufoca. Nos torna burro em todas as reações que fogem a nossa especialidade. Nos deixa tenso e sem reações de forma que deixamos a vida passar sem realmente vivê-la, como se passa o tempo.


Autor: J.A. Gaiarsa -  Couraça Muscular do Caráter (Wilhelm Reich) Editora Ágora/ Edição 4 / 1984

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ahh! O Amor...


Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos,
 resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. 
Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, 
o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, 
melhor será desistirmos e procurar mais adiante 
os sentimentos que nos negaram. 
Não fazer esforços inúteis, 
pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, 
mas nunca por força de imposição. 
Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;
outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. 
Os sentimentos são sempre uma surpresa. 
Nunca foram uma caridade mendigada, 
uma compaixão ou um favor concedido. 
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, 
e desprezamos quem melhor nos quer. 
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, 
e falhado, resta-nos um só caminho...
o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

Encerrando Ciclos



Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário,
perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos.
Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os
momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto
não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes
e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos,
seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha,
seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado,
nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos,
adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos
com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem
já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente
possam ir embora...Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!)
destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos,
vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível,
do que está acontecendo em nosso coração...
e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto
às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço,
que descubram seu gênio, que entendam seu amor.

Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa,
que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas
envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos,
promessas de emprego que não têm data marcada para começar,
decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo:
diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo,
sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade,
ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa
mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.
Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem
és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja
quem tu és... E lembra-te:

Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.

Fernando Pessoa
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