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domingo, 4 de novembro de 2012

A raiz e a flor



Parece que quanto mais nos expressamos, quer dizer,
quanto mais colocamos para fora o que está em nosso interior,
mais vivos estamos.

Quanto mais damos voz à nossa dor de viver, menos barreiras entre
nossa alma e o mundo.
Por outro lado, quanto mais nos reprimimos, quanto mais represamos,
e nos fechamos em nós mesmos, menores nos tornamos.
Quanto mais acumulamos em nosso coração e em nosso cotidiano,
mais temos de nos esforçar para sentir a vida diretamente.

Tanto que nossa vida não expressada pode se tornar um calo
que carregamos e cuidamos, mas nunca removemos.
A vida pode, de fato, perder sua suavidade.
Erroneamente concluímos que ela está perdendo seu sentido,
quando somos nós que não estamos sentindo mais o sabor
das emoções essenciais.
Por exemplo, para uma pessoa que não percebe que está com catarata,
é o mundo que parece escurecer, não sua vista.

Quantas vezes achamos o mundo menos estimulante,
inconscientes de que nosso coração está diminuído e sufocado por todas
as coisas que permaneceram reprimidas?

Confesso que, por muitas razões, sempre me senti invisível em minha família
e em certos grupos.
Inicialmente, o problema se originou por querer agradar a todo custo uma
mãe centralizadora.
Isso me levou a anos de mágoas e rejeições nunca reveladas,
que formaram um  calo no meu coração.

Sou e sempre fui uma pessoa muito aberta e sensível, mas,
além de certo ponto, meu íntimo não podia ser tocado.
Embora esse calo tenha começado a se desenvolver a partir
do relacionamento com minha mãe, isso afetou o modo
como me relacionava com qualquer um.

Finalmente, percebi que o mundo não estava perdendo sua cor,
mas eu é que estava apagando as cores das emoções.
Dizer isso agora tão calmamente não reflete como foi difícil,
longo e doloroso tomar consciência desse problema.

Ele veio à tona para mim gradualmente, à medida que passei a reconhecer
e dar voz à sensação de invisibilidade que carreguei por toda a vida.
Parece que a nossa autenticidade está ligada ao que é expresso e ao que é reprimido.
Assim como as flores precisam de raízes saudáveis para florescer,
os sentimentos somente podem expressar sua beleza,
quando estão cuidadosamente enraizados em nós,
rompendo o solo de algum modo e desabrochando.

É esse delicado e paradoxal pedacinho de chão entre a superfície e o fundo,
entre a flor e a raiz, entre o que é libertado e o que é contido,
que continuamente determina se estamos vivendo nossa vida, ou não.

Texto extraído de:
O Livro do Despertar
Mark Nepo

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